quinta-feira, 19 de maio de 2011

Nas barbas da ANATEL

Você já imaginou se a moeda (o dinheiro) que nós usamos tivesse um prazo de validade? De 30 dias, por exemplo? Você estaria descansando com a família, no final de semana, acampado na prainha, lá na beira do rio, tranquilo, gozando das benesses de seu "polpudo" salário mínimo, e resolvesse ir ao açougue da vila mais próxima, em busca de um cupim para o churrrasquinho. Faria a compra, tiraria do bolso a única nota de 50 reais que restara do salário, e faria o pagamento da conta. O açougueiro pegaria a nota, olharia com cuidado pra ver se não era falsa, e depois de uma conferência minuciosa, daria a você a notícia fatal:


- Infelizmente, esta nota "tá" vencida.

- Vencida!?

- Isso mesmo. Venceu ontem.


Sem mais dinheiro, nota vencida, churrasquinho cancelado, a única opção que lhe sobraria: pegar a família e voltar mais cedo pra casa.


Essa é uma situação hipotética, meio difícil de acontecer.


Mas, no caso da telefonia celular não!


A grosso modo, comparamos a validade do crédito telefônico àquela do dinheiro.

O usuário pega seu dinheirinho contado, vai ao posto de venda, e compra 12 reais de crédito. Gasta um pouquinho, recebe chamadas (se forem interurbanas, quem faz e quem recebe pagam)...Certo dia, ele precisa fazer uma viagem urgente, sai de casa, pega o ônibus, bota o pé na estrada. As horas passam, o ônibus vai rompendo a distância, o usuário tenta fazer uma ligação, não dá certo, está fora de área de cobertura, fica tranquilo, descansa. Lá pelas tantas, à noite, já no destino, vai ligar pra família dizendo que está tudo bem. Disca o número uma, duas, tres vezes. Em todas elas, a moça da gravação anuncia:


- Seu crédito é insuficiente para gerar esta ligação!


- Não pode! - diz ele, consigo mesmo: Eu conferi ontem, saí de casa tinha um crédito de cinco reais!


Sem entender nada, busca aqui e acolá uma explicação, até que fica sabendo a verdade: seu crédito, que tinha a validade de trinta dias, vencera na véspera, e fora "garfado" pela empresa de telefonia celular. Sem crédito no telefone, o usuário se vê obrigado a não se comunicar com a família.


Um absurdo inexplicável. É como se a nota de cinco reais do usário tivesse o prazo de validade de 30 dias.

A companhia telefônica embolsa, indevidamente, aquele dinheiro do usuário.


Tudo isso, nas barbas da ANATEL.


O brasileiro paga uma das tarifas de telefone mais caras do mundo e não tem os serviços prestados a usuários de outros países. Enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, uma antena de celular fica a 37 km2, aqui no Brasil as empresas têm uma antena a cada 169 km2!

Não fazem investimentos. Mas, os lucros são alarmantes. Só a Telefônica Brasil (que explora a Vivo) registrou, no primeiro trimestre deste ano, um lucro líquido de um bilhão, cento e vinte e nove milhões de reais!


Nesta semana, a ANATEL anunciou com entusiasmo que o Brasil atingiu, em março deste ano, a marca histórica de 210 milhões e 500 mil assinantes de telefonia celular. Bem mais que um celular para cada brasileiro. Desses, 173 milhões são pré-pagos ( 82,18%). Se cada um desses usuários teve R$ 1 (um real) "sequestrado" por mês, só nessa manobra as empresas obtiveram, usurpando os direitos do consumidor, no primeiro trimestre de 2011, o lucro de 519 milhões de reais!


Tudo isso, nas barbas da ANATEL.

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