quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A Voz Rouca Que Vem das Ruas

                                                                      "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
                                                                      Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
                                                                      Que, para ouvi-las, muita vez desperto
                                                                      E abro as janelas, pálido de espanto...
                                                                      E conversamos toda a noite... " (Olavo Bilac)   



     O poeta, um sonhador, conversa com as estrelas. "Pois, só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender as estrelas".

     O homem público, o político, por sua vez (se não for um poeta-sonhador, que converse com as estrelas), tem por obrigação "ouvir a voz rouca que vem das ruas".

     Já foi cantado em prosa e em versos que "a voz do povo é a voz de Deus".  Por isso, o político precisa ouvi-la, precisa dar atenção às advertências que vêm das ruas. 

     Se o homem público, em vez de ouvir as cantigas de pé-de-ouvido, entoadas melodiosamente por bajuladores e sanguessugas, e desse mais atenção às vozes roucas que vêm das ruas, muitos atos indígnos deixariam de ser praticados, e a honradez de muitos deles seria salva.

     O prefeito de Anápolis, sr. Antônio Gomide, apesar dos esforços que faz para acertar, tivesse ele ouvido a "voz das ruas", e não a bajulação insensata, não estaríamos vivenciando esse escândalo da Operação "La Plata", desbaratado pelo Ministério Público. Ponderações foram apresentadas a ele, a tempo e a hora, pela presidente do Sindicato dos Funcionários Municipais, Regina Faria, e pelo presidente da Associação de Proteção Ambiental, Arnaldo Mascarenhas, para que a mutilação feito ao Plano Diretor da cidade fosse impedida através do seu VETO. Infelizmente, as ponderações entraram por um ouvido e saíram pelo outro. O sr. Antônio Gomide sancionou tudo, do jeitinho que veio da Câmara.  Hoje, quinze pessoas, entre vereadores, auxiliares do prefeito, funcionários públicos municipais e empresários do setor imobiliário estão denunciados pelo MP, e nove deles tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça. 

     É bom a gente sempre ter à lembrança uma verdade: nesta vida, as coisas boas repercutem muito pouco; as ruins, mesmo se vierem em forma de boatos, esparramam-se mundo a fora, a perderem-se de vista!
Na política, então, é pior ainda!  As coisas ruins passam a integrar a biografia do homem público.

     Querem um exemplo? Amanhã, a história política do Brasil vai registrar, na biografia do presidente Lula, que, em seu governo, ocorreu o "escândalo do Mensalão". É u'a mancha difícil de se apagar.

     Da mesma forma, o prefeito Gomide. Amanhã, ninguém vai se lembrar das praças que reformou, do asfalto que retocou, das escolas que pintou, dos incentivos que deu às artes e à cultura, nada disso vai ser lembrado; são coisas que se apagam na memória do tempo. Na história política de Anápolis, o nome de Antônio Gomide vai ser lembrado como o prefeito que, em cuja administração, ocorreu o "maior escândalo de corrupção" registrado nesta cidade. 

     Tudo isso, por quê?

     Porque, quando a presidente dos servidores públicos e o representante de ONG que defende o meio ambiente foram ao prefeito, e pediram a ele que vetasse a matéria aprovada pela Câmara de Vereadores, alguém deve ter cochichado aos seus ouvidos : "Ora, ouvir a voz rouca das ruas! Certo perdeste o senso!" 



       

segunda-feira, 30 de julho de 2012

BRASIL : AME-O OU DEIXE-O !

Corria o ano de 1970. 
Brasil, tri-campeão mundial de futebol, televisão em cores, época do "milagre econômico", também chamado de "milagre brasileiro". Propaganda descarada e cínica dos atos de governo, publicidade massificante às custas de verbas oficiais, popularidade inconteste do ditador de plantão, que era o general Emílio Médici. Também, época do período mais violento da ditadura. 
Naquele ano, o que os governos democráticos não souberam explorar (as vitórias do nosso futebol em 1958 e em 1962), o governo autoritário usou e abusou da conquista do TRI.   Pari passu   com o chamado "milagre econômico", a propaganda oficial extrapolou todos os princípios da nacionalidade e da moralidade, submetendo a grande imprensa brasileira (com verbas públicas e benefícios públicos) às rédeas dos governantes. Também as artes, a música, a literatura se agacharam aos caprichos do governo. O povo, massa de manobras subserviente, encantava-se com as conquistas do Brasil, aquelas que eram alardeadas pela propaganda oficial. 
Foi nesse clima que surgiram músicas ufanistas, interpretadas por conjuntos jovens, muito populares na época: "Este é um País que vai pra frente", "Pra frente,Brasil", "Obrigado ao Homem do Campo", "Eu te amo, meu Brasil" e daí adiante. 
Nesse período, a ufania chegou a tal ponto que o governo massificou a expressão : "Brasil : Ame-O ou Deixe-O". Essa frase vinha nos jornais, nas revistas, nos programas de televisão, nas rádios, na música, nos cartazes esparramados pelas rodovias e cidades brasileiras...Repetidas vezes divulgada, para que o povo acreditasse que fosse verdade! E muita gente engolia essa mentira massificada...
Foi quando um dos poucos veículos de imprensa livre, formado por jovens idealistas, O Pasquim, passou a ser o canal de protesto contra tudo e contra todos, através de críticas bem humoradas, que ludibriavam a censura oficial. Nesse jornal, àquela época, o então jovem cronista e jornalista Ivan Lessa (criador do ratinho Sig, junto com Jaguar), diante de tanta massificação de "Brasil, ame-o ou deixe-o", cunhou na lápide da história essa memorável sentença : " O ÚLTIMO A SAIR APAGUE A LUZ"


Hoje, quando vejo na internet algumas centenas de pessoas, indignadas com a corrupção, defendendo e compartilhando posts que dizem  "Pena de Morte para os Corruptos" ,  eu me aproprio da ideia original de Ivan Lessa, e pergunto: "QUEM É QUE VAI SER O CARRASCO?" 

sábado, 28 de julho de 2012

CENAS DO BRASIL

CENA UM : No dia 4 de julho deste ano, por recomendação da ministra Ana Arraes ( mãe do governador Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco), o TCU (Tribunal de Contas da União) reformulou uma resolução do próprio Tribunal que havia desaprovado as contas da parceria do Banco do Brasil com a empresa de publicidades DNA, pertencente a Marcos Valério - figura central do escândalo do Mensalão. Foi nessa relação comercial amistosa entre Valério e o banco oficial que a Procuradoria Geral da República (PGR) se baseou, para sustentar a tese de desvio de recursos públicos para engordar as contas de políticos corruptos, envolvidos com aquele que Roberto Gurgel (Procurador Geral da República)  considera " o mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção e desvio do dinheiro público flagrado no Brasil".

Nesses contratos renovados, sem licitação, a DNA de Marcos Valério abocanhou cerca de  R$ 150 milhões.

O TCU aprovou tudo, tim tim por tim tim, como sendo realizado de acordo com a lei, respeitando os princípios éticos da administração pública.

CENA DOIS : O sr. Benedito Pereira, meu vizinho, aposentado por tempo de serviço (depois de 35 anos de contribuições, como "chapa" e ajudante de caminhão)  que percebe um salário mínimo por mês do INSS a título de aposentadoria, está perdendo horas de sono, preocupado com os avisos frequentes que lhe chegam pelo correio. O Dito Pereira, para completar a sua renda familiar, já que a aposentadoria não dava para as despesas, depois de aposentado, arrumou um serviço de guarda noite. Tudo registrado, certinho. Em 2010, juntando tudo, a sua renda total superou o limite mínimo de isenção do Imposto de Renda. Fez a declaração. Foi seu erro...

Caiu na "malha fina". Agora, mensalmente, recebe correspondência do Leão. A Receita Federal quer que o Dito devolva, com o acréscimo das penalidades previstas em Lei, o valor de R$ 215 que teria ficado pra trás...

O meu vizinho vem economizando pra ver se junta a grana, mas está difícil. Dinheiro não sobra. Ele nem dorme mais durante o dia (uma vez que, à noite, continua trabalhando como vigia )  com medo de ser preso por sonegação de impostos e enriquecimento ilícito...

MORAL DA HISTÓRIA : "Quem nasce pra Dito Pereira nunca chega a Marcos Valério"  










quinta-feira, 26 de julho de 2012

Presidente do STF veta a palavra MENSALÃO

Os jornais de hoje trazem a notícia : "AYRES BRITO VETA A PALAVRA  "MENSALÃO.  O presidente  do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Brito, tomou uma decisão. Pediu que todos os ministros da corte passem a se referir à Ação Penal 470, e não ao "processo do Mensalão". Isso porque o termo "mensalão" expressaria um pré-julgamento"


                            Isso me traz à lembrança um caso que certa vez me contaram, e,  que teria ocorrido na pacata cidadezinha de Capimpuba do Oeste. 
                      Lá, o chefe do destacamento policial, o Cabo Antônio, era, depois do vigário, a maior autoridade local. Nem mesmo o prefeito gozava de tanta credibilidade junto à população quanto o Cabo Antônio.  O Cabo era pau pra toda obra. Briga de vizinhos, separação de casais, desentendimentos de namorados, discussões no boteco da praça, até pequenos furtos (o que pouco acontecia naquela pacata cidadezinha do interior), pra tudo era chamado o Cabo Antônio. E ele, de um jeito ou de outro, sempre resolvia a demanda. 
                       Em uma visita que o Governador fez à Capimpuba, ele ficou impressionado com a popularidade e o prestígio do Cabo Antônio. A tudo que se referia, a qualquer problema, alguém ao seu lado lhe informava que o "Cabo Antônio já resolveu". Foi assim que o Governador anunciou: "temos de promover o Cabo Antônio a Sargento; ele merece essa promoção". 


                       Pronto! Daí pra frente, depois da esperança de promoção, o Cabo Antônio passou a andar com o peito mais estufado, e, se alguém o chamasse de "Cabo Antônio", ele o olhava com desdém, não escondia seu descontentamento e afirmava com convicção: "Sargento Antônio".  O futuro sargento vivia momentos de expectativas, a qualquer instante chegaria o documento de sua promoção. 
                        Um dia, a promoção chegou. A notícia logo correu pela cidade. O vigário usou o alto falante da Igreja de S. Sebastião e fez o anúncio com desmedida euforia. Jubiloso, o prefeito marcou a homenagem ao ilustre capimpubiano em Praça Pública. A insigne promoção seria anunciada, oficialmente, em grande festa popular, na manhã de domingo, na Praça da Igreja, logo após a missa das oito.


                        O ex-cabo Antônio já não aceitava mais que o chamassem de Cabo Antônio. 
                        Chegou o domingo da grande homenagem. As crianças das escolas municipais, e também os jovens do ginásio estadual, todos, uniformizados e perfilados , em frente ao palanque armado para agasalhar as autoridades naquela manhã ensolarada. A fanfarra do ginásio, que só desfilava no Dia da Independência, também estava lá, dando o seu show particular. Centenas de populares, talvez milhares, a cidade toda, aglomerados na praça, cada qual em busca da melhor posição para acompanhar o acontecimento histórico.
                        Terminada a missa das oito, as autoridades foram para o palanque, inclusive o ex-cabo Antônio, acompanhado pelo prefeito e pelo vigário. O locutor do parque de diversões, convocado para animar a cerimônia, anunciou a abertura da mesma, com a execução do Hino Nacional. O hino foi tocado no alto falante da Igreja, e cantado pela população. Ao final, a praça toda explodiu em aplausos. Emocionado, o locutor do parque anunciou a palavra do prefeito, para dar abertura à solenidade tão esperada por todos, especialmente pelo ex-cabo. 
                      Sob aplausos, o prefeito disse:


                      - Pooovo de Capimpuba do Oeste ! É com justificável orgulho e inusitado prazer que declaro aberta essa memorável cerimônia, em homenagem a esse homem que é exemplo da nossa cidadania, o símbolo maior da nossa segurança, para quem eu peço um viva dos mais vibrantes, de todos que lotam esta praça : VIVA O SARGENTO CABO ANTÔNIO !!!


                        Todos gritaram "vivaaaaa!", só o ex-cabo baixou a cabeça, e ficou calado...



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                      O mesmo acontecerá com essa proibição do Presidente do STF. 
                      Vai chegar a hora em que algum ministro estará falando sobre a Ação Penal 470, e alguém vai perguntar:
                      - Que Ação Penal é essa, Ministro?


                      - É a do Mensalão!!!  















sábado, 14 de julho de 2012

A Vergonhosa Máfia dos Suplentes de Senadores

       Em março deste ano, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o texto da Proposta de Emenda Constitucional, que modifica regras para eleição dos suplentes de senadores. Essa PEC faz parte da proposta de reforma política. O texto aprovado reduz de dois para um o número de suplentes e proíbe a inclusão na chapa do candidato  de cônjuge ou parente consanguíneo até segundo grau e de filhos adotivos.


       Um dado alarmante, e desmoralizante, é divulgado frequentemente nas justificativas para mudanças substanciais nesse sistema caduco, velhaco e cheio de lances de corrupção: Em 20 anos, mais de 200 suplentes assumiram cadeiras no Senado Federal.  Agora mesmo, Goiás está com dois suplentes, que não receberam votos nunca em suas vidas, em exercício definitivo dos mandatos de senadores!!!


       Isso é uma desmoralização total das atividades políticas. 


       Desses suplentes que exerceram e exercem funções de Senador, a grande maioria é formada por parentes do senador titular (pai, esposa, filhos, primos, cunhados, tios e irmãos) e boa parte deles por empresários financiadores de campanhas. No caso de Goiás, os dois suplentes/senadores que exercem mandatos nas vagas deixadas pelos titulares eleitos são financiadores de campanhas. 


       A PEC aprovada pela CCJ do Senado Federal, na proposta de reforma política, não resolve nada.


       Essa proposta, simplesmente,  vai impedir a indicação de dois suplentes e de parentes do candidato até segundo grau. Mas, a vergonhosa manobra de se indicar suplente financiador de campanhas, totalmente desconhecido do eleitor, e comprometido com empresas que têm interesse em obras públicas, vai continuar sem qualquer modificação.


       O Senador é um parlamentar. Numa Democracia, todos os ocupantes do Parlamento devem ser eleitos diretamente pelo povo. 


       Por que essa ELEIÇÃO INDIRETA DE SENADORES?


       É um incentivo à corrupção, e mostra ao povo brasileiro que a maioria dos integrantes das nossas câmaras legislativas está descompromissada com a ética na política.


       Seria difícil encontrar-se outra fórmula para o preenchimento da suplência de senador?
Claro que não !


        A solução salta aos olhos de todos, só não a vê quem tem  o interesse de se fingir de cego, e, quer dar uma martelada no prego e  outra na ferradura. Resumindo: só não enxerga aquele que deseja manter a fonte de corrupção aberta, para a indicação de empresário rico (geralmente rico por causa dos negócios favoráveis em obras públicas) como primeiro suplente de senador.


         Se houvesse o interesse político pela moralização, bastaria estabelecer-se que,  em caso de vacância da vaga no Senado (pela cassação de mandato ou morte do titular, ou pelo seu afastamento para o exercício de funções na área administrativa do País), assumiria a vaga, definitiva ou temporariamente, o segundo candidato mais votado nas eleições para Senador. Assim, esse suplente teria o respaldo político-eleitoral para representar o povo de seu Estado.
   
        Chega dessa pouca vergonha na escolha de suplentes de senadores !

sexta-feira, 13 de julho de 2012

As Voltas que o Mundo Dá

- Vou abrir um curso de Cabo Eleitoral!
A moça loira entrou, eufórica, anunciando a grande decisão de sua vida.
Genésio, servidor público de quatro costados, indignou-se com a revelação:
- Curso de Cabo Eleitoral?
- É sim. Vou dar diploma e tudo.
- Pra que serve?
- Você está de brincadeira comigo, não é mesmo, Genésio?! - Indignou-se a moçoila da notícia.
- Estou não, senhorita!
- Serve para trabalhar na política, em favor de um candidato.
- Pra qualquer candidato?! - Agora, quem ficou indignado foi o barnabé.
- Qualquer um. Aquele que pagar mais. Depois de formado, o Cabo Eleitoral vai ao comitê e arruma o serviço. Com o diploma na mão, registrado e tudo, vai ser bem mais fácil.
- Espera aí. Vou pedir voto assim, sem conhecer o candidato, sem saber o que é que ele pensa...
- E daí? É tudo a mesma coisa! Você nem parece que é do nosso tempo!

Genésio - confesso - não estava entendendo mais nada. Seu tempo era outro. Aquele tempo em que as pessoas participavam das pugnas eleitorais, viviam a vida de seus candidatos, conheciam as suas ideias, os seus princípios, os seus objetivos políticos. "Mas - pensava ele - esse mundo dá tantas voltas!" . Genésio sentiu que tudo muda tão de repente, que a gente não consegue acompanhar a evolução dos tempos. "Também, pudera! - conversava ele com seus botões - "Passo os dias, os meses, os anos, enfurnado aqui nesta repartição, em meio aos meus processos, sem acompanhar nada que acontece lá fora..."
Genésio, absorto, perdido em suas reflexões, enquanto a moça loira destrinçava o projeto que iria por em prática.

- ...mais tarde, pretendo criar a Confederação Nacional dos Cabos Eleitorais. Essa é uma profissão como outra qualquer, o Ministério do Trabalho vai ter que reconhecê-la!
- Existem outros cursos iguais a esse no Brasil? - Arriscou o barnabé, temendo expor demais a sua ignorância.
- Não. A ideia é minha! Vou registrá-la no Departamento de Marcas e Patentes . - Respondeu ela, acrescentando:
- A gente não pode ter uma boa ideia aqui no Brasil, que logo aparecem as sanguessugas querendo copiá-la.
- É verdade. O mundo carece de gente criativa. - Limitou-se a concordar o modesto funcionário público, recolhendo-se às meditações que o reduziam à pessoa mais mal informada a respeito das mudanças que ocorriam no mundo.
- Um deputado, amigo meu, disse que vai mexer com os pauzinhos, lá no Ministério da Educação. O Ministério vai regulamentar o meu curso como Curso de Nível Superior...
Genésio viajava em seus pensamentos, e a moça falava:
- ...brevemente, vai ser a Faculdade do Curso Técnico de Cabo Eleitoral. Quem sabe, amanhã, a gente a transforme numa universidade. A Universidade...- Parou um pouquinho para pensar, e concluiu - ...a Universidade de Agentes Especializados em Pesquisas Eleitorais!
- Bom ! - Exclamou, sem muita convicção, o barnabé.
- Bom, nada! Ótimo!!! Será um grande passo para a valorização do servidor público, que ganha um salário de miséria, de fome !
- É mesmo. - Mais uma vez, concordou Genésio, pensando no seu próprio salário. Ganhava pouco, e não tinha aumento salarial há oito anos. A moça da notícia não se continha:
- Nós, funcionários públicos, merecemos mais atenção dos governos.
- Ah! Você também é servidora pública?
- Sou. Há mais de três anos.
- Lotada onde?
- Na Secretaria de Administração.
- Presta serviço em qual repartição?
- O quê?!
A abrupta reação da moça, demonstrando estranheza pela indagação do modesto barnabé, deixou-o meio atrapalhado, tentando explicar-se melhor:
- Eu...bem...eu...queria dizer o seguinte...Em qual repartição você está trabalhando?
- Você acha que eu, com um salário desse, ainda vou trabalhar?

O pior de tudo é que o Genésio achava...
Realmente, ele andava por fora  das mudanças que ocorreram no mundo.

O Gavião, a Raposa e o Rato

- Sou mais poderoso que o Sol!
Exclamava o Gavião-caipira, garboso, sobrevoando a planície, com um Rato-do-campo, inerte, em suas presas.
A Raposa, esgotada com o esforço inútil de tentar pegar algumas uvas da videira inacessível, aproveitou-se da oportunidade para deixar de lado os frutos, e questionou:
- Por que és mais poderoso que o Sol?
- Não notas, Raposa, o que levo nas garras?
- É um camundongo!
- Pois sim. Não sabes que nuvem oculta o Sol, que o vento arrasta a nuvem para onde quiser, que a montanha detém os mais terríveis vendavais e que o Rato furou a montanha, e vive no seio dela contra a sua vontade?
- Conheço a história.
- Se o Rato é mais poderoso que o Sol, vês agora quem tem mais poder?
O Sol escaldante sugou da terra milhões de gotículas, que foram aos céus formarem as nuvens, e despencaram-se em violenta chuva de ventos, que fez o Gavião se chocar com a montanha, libertando o Rato de suas garras afiladas , o qual, num átimo, escondeu-se em sua toca no seio da montanha.
A Coruja, que a tudo assistia, sentenciou:
- Nunca se deve acreditar cegamente no que dizem as fábulas.